Tavira, 20 de Novembro de 2005
Hoje voltei a pegar no livro de Dick Haskins, e como das outras vezes voltei a ler a introdução que até hoje ainda não me fartei de reler…
Por isso vou transcreve-lo para aqui pela simples razão de que essa introdução me dizer muito da infeliz realidade do mundo actual.
“ O mundo está podre.
O mundo desmembra-se em pedaços, lentamente, à medida que progride no seu corpo as ramificações do cancro que domina e alastra.
Cada uma das raízes do seu tumor maligno tem nome: Luxúria, Vaidade, Ambição Desmedida, Indiferença Pelo Próximo, Ódio, Cobiça, Imortalidade, Desequilíbrio Mental, Preguiça, Soberba, Assassínio e um sem-número de nomes mais para outras tantas raízes.
Este é o Mundo do Século Vinte, é o meu e o teu Mundo; é o nosso Mundo. Como tu, como um leucócito ou eritrócito, nele navego, em veias, artérias e capilares; nele, como tu, procuro sobreviver as tempestades, iludido, porque ainda penso que posso contribuir para a descoberta de uma cura que me parece já irremediável.
A voz que pretende repercutir-se no teu espírito, traduzida em associação de letras, palavras, linhas, parágrafos e páginas, é minha; é uma voz abafada pelos ventos ciclónicos que sopram de todos os quadrantes, é um gemido de alerta, uma bóia furada à qual talvez te possas agarrar e continuar a viver, se a margem do teu mar não estiver demasiado distante…
Esta história pode não ser tua, mas, de qualquer forma, é para ti, é o Mundo de hoje.
A solidariedade ainda existe, para muitos, em vinte e quatro horas e trezentos e sessenta e cinco dias. Por que é que todos os dias, os meus e os teus, não são Natal?
Ri-te de mim, até as lágrimas, se quiseres, mas não me chames teórico, filósofo ou qualquer outro nome que não se enquadre comigo. É um facto o cancro do Mundo, não duvides, e as páginas que constituem as minhas células vivas não são feitas de rosas, mas de espinhos; se não os puderes suportar, não oiças a minha voz, põe-te de lado.”
E de cada vez que releio este excerto, fico com uma sensação de que o mundo vai cada vez mais ao encontro disto, e que o Homem é o principal culpado desta tragédia, que avança a passos largos sem que a possamos impedir. E talvez os que lutam para evitar que o Mundo, o nosso Mundo, fique ainda mais drástico, nunca tenham uma recompensa do seu ardo trabalho feito ao serviço da humidade…
Pelo caminho que estamos a percorrer, talvez tenhamos que nos matar uns aos outros e nessa altura o cancro nos vencera de uma forma tão fácil, tão mortífera. E ai estaremos a beber o veneno da humanidade, aquele que poderíamos nos ter esforçado para combater. Mas a sociedade é demasiado egoísta e materialista para pensar num bem que nos e comum... a vida e sem planeta Terra não há vida.
Talvez a sociedade de hoje pense: “ Quando o Mundo acabar eu já não estou aqui, por isso por que é que me vou preocupar com algo que não me vai afectar?”. E se o fim esta mais próximo do que imaginamos? E se não formos nós a sofrer, e sim os nossos filhos ou nossos netos? Como é que ficaríamos? Será que não nos afectaria?
E bom que a humanidade se vai-a já acostumando a levar um peso de consciência por que nós, se continuarmos a agir desta maneira, é que vamos acabar com o planeta. E não será uma boa ideia começar a pensar nisso?
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